domingo, 19 de outubro de 2008

Entrevista com Raimundos

Uma das maiores bandas de rock do país, o Raimundos, veio à Juiz de Fora na última sexta-feira, 17/10/08. Eles se apresentaram no Cultural Bar e fizeram um show inesquecível, regado a bate cabeça, músicas desconhecidas e grandes sucessos. Aqui vai a primeira parte da entrevista, concedida ao Jardim do Rock. Foram entrevistados por Guilherme Monteiro, Marcelo Martins (pessoa entre montes) e Rafael Grohmann.

Enquanto Digão tocava guitarra com sua pedaleira novíssima e Marquim o auxiliava a regular o som, Canisso e Caio, também acompanhados de Guiminha (amigo da banda e técnico de som) conversaram com a equipe do Jardim do Rock: Guilherme Monteiro, Marcelo Martins e Rafael Grohmann.

Qual foi a última vez que vocês vieram aqui?
Canisso: Viemos em 95,96... Tocamos num festival que aconteceu num clube de um time. Tocaram Pato Fu, Raimundos, o Rappa, se não me engano, e Nação Zumbi.

E você, Caio? Nessa época você fazia o que?
Bom...fazia outras coisas (risos). Mas já curtia a banda, já.

E qual que é a responsa, Caio, de assumir a batera de uma das maiores bandas de rock do país?

É muito tranquilo. Não tem muita pressão. Às vezes eles falam: "Tenta não fugir muito da linha, não ficar firulando muito, para que as músicas não percam tanto a cara." E a galera aqui é de boa. O Canisso passa muita tranquilidade, o Digão que é mais... "Calma velho, não sei o que, tal.."Ele quer mais fidelidade nas músicas, sacou?
Canisso: Realmente, quando uma banda interpreta uma música, é que nem quando um moleque toca. Quando você tira a música, você tem que ser fiel nas minúcias da música. Mas, a partir do momento que você a domina, você tem a liberdade de acrescentar a sua interpretação: um pouco mais de peso, um pouco mais de velocidade...Enfim, quando você ver que dá para mudar algo na música, isto é totalmente válido. Para mim, não há esse lance de tocar a música do jeito que ela é, tendo que ficar "congelada", registrada no disco. Acho uma bobeira isso. Como músico, acho que o desafio é você realmente buscar a aprimorar e moldar a música à sua interpretação.

"Brasília sempre teve a intenção de ser a capital do rock, mas nunca teve estrutura pra isso"

Vocês tem acompanhado o cenário underground de Brasília? Como que está o cenário hoje, já que Brasília é berço de várias bandas de rock.
Caio: Cara, lá é difícil. Eu ainda toco nos Sapatos Bicolores e tocava no Deceivers, que é hard core. Estas são mais underground mesmo, né? É mais por diversão mesmo,já que não dá para ganhar uma grana. Tem os festivais independentes que dão apoio às bandas, como o de Goiânia, de Belém, no Sul... mas não é tão fácil não.É difícil tu conseguir passar essa barreira, sacou? É bem fechado. (dirigindo-se ao Canisso) Você não tocou lá no Quebra Queixo antes de voltar pros Raimundos, né?

Canisso: Ah, é difícil tocar lá. Isso é assim porque não há um lugar para rock na cidade. Não tem um bico! Pô, aqui vocês tem essa casa, com amplificador, caixas de som e um balcão para vender birita. Lá em Brasília tá muito difícl porque não há um local como este. Isto porque Brasília é tida como berço de bandas seminais do rock, como Legião Urbana,Plebe Ride, Capital Inicial..não só Raimundos, saca? Brasília tem uma tradição de pretender ser a capital do rock e
não ter uma cena para que isso aconteça. É o local que eu conheço onde mais tem banda, mas que falta lugar para tocar. Tá difícil. Tem um festival importante, só que rola uma panela forte. E a panela tá fechada mesmo, sacou? A cada dia você vê que fica mais difícil alguma banda se sobressair por lá.Por outro lado, a dificuldade também é interssante, sacou? Porque a dificuldade faz os caras se movimentarem, batalharem outros horizontes. Na nossa época,para se fazer um show, era amplificador emprestado de um, instrumento emprestado do outro, ligava-se na tomada debaixo do prédio, fazia show num barzinho que nunca teve um show... Quando a gente chegou em São Paulo, havia 200 lugares pra tocar. Maneira de falar, mas havia uns cinco ou seis certos, saca?E bandas acostumadas a tocar com equipamentos de primeira linha, entende? E a gente, cara, era acostumado a tocar com uma aparelhagem muito inferior!Nosso PA era cinco ampli ligado em série e pronto! (risos)







"Tenho idéias para o mercado fonográfico"

Canisso falou também sobre a mudança que a Internet causou ao mercado fonográfico. "A venda de cds caiu. Hoje, atualizo-me muito rapidamente sobre qualquer banda. Logo depois de um show, posso conferir detalhes dele no youtube." Disse, também, que a banda deve atrair o fã não só mais com um cd. "Por exemplo, o cara vai num show e lá tem a barraquinha da banda, que vende a camiseta, a pulseira e o cd. Tem banda que faz isso há muito tempo", disse Canisso, inconformado com bandas que ainda mantém o seu lucro com venda de cds. "O mercado hoje mudou. É preciso que as bandas e seus empresários mudem de atitude."

Perguntado quais atitudes que ma banda deveria tomar, Canisso respondeu: "Tenho idéias para o mercado fonográfico. Mas, quem quiser sabê-las, vai ter que me dar um bom dinheiro. Minhas idéias são boas para esta nova fase que vivemos."

Findado sobre esse "papo-cabeça", Rafael Grohmann faz a clássica pergunta: "Qual foi a maior loucura dos Raimundos?"
"Se eu te respondesse, teria que te matar depois", respondeu Canisso. "Algumas músicas relatam isso. Mas não posso contar mesmo."

A entrevista teve que ser encerrada para que a banda passasse o som. Digão e Markim testaram as guitarras e só faltavam testar o som com todos os instrumentos.

Tiramos algumas fotos e, horas depois, voltamos ao Cultural Rock Bar para esse showzasso.
Vale a pena quem tiver a oportunidade de ir.
Valeu, Raimundos! Sucesso pra vocês!


Passem pelo meu canal no youtube e assistam a alguns fragmentos do pré-show e do show em JF. http://www.youtube.com/user/elrapaz

Jardim do Rock. Ouça na 6a feira,às 14h em http://www.radio.ufjf.br/ Peça sua música pelo jardimdorock@hotmail.com.