sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Embarque neste Carrossel

Para que serve uma canção? Tentando responder a pergunta, a banda mineira Skank lançou “Uma canção é pra isso”, primeira música de trabalho do CD Carrossel, que chegou às lojas em agosto do ano passado.
O CD confirma o novo estilo musical da banda que começou no quinto disco, Maquinarama. No começo da carreira, as músicas possuíam só quatro ou cinco acordes, uma batida mais quadrada e maior semelhança com os ritmos latinos. Ele foi lançado após “Radiola”, CD com duas músicas inéditas e regravações do anterior, “Cosmotron”, além da versão rock n' roll de “Vamos Fugir” (de Gilberto Gil e Liminha) e de “I Want You” (do LP “Blonde on Blonde”, de Bob Dylan). A banda está há 15 anos na estrada com a mesma formação: Haroldo Ferreti na bateria, Lelo Zaneti no baixo, Henrique Portugal nos teclados e Samuel Rosa na guitarra e nos vocais.
Hoje, o Skank demonstra maturidade musical, seja na composição harmônica das músicas, usando acordes dissonantes e diminutos, nos efeitos que Portugal usa e abusa (Protools, Minimoogs e Nord Leads, além dos pianos Yamaha) e nos arranjos do baixista Zaneti – muito semelhantes aos do beatle Paul McCartney.
Cada música revela as influências que a banda só manifesta nessa nova fase. O arranjo musical tocado por instrumentos clássicos – violino, violoncelo, flauta e até tímpano – presentes nas músicas “Panorama”, “Garrafas” e “Notícia” identificam-se muito com a fase mais madura dos Beatles (época dos discos “Revolver”, os “Álbuns Brancos” e “The Magical Mistery Tour”). As baladas “Mil Acasos”, “Uma Canção é Pra Isso” e “Balada pra João e Joana” (ou seria “for John and Yoko?”) parecem com a fase inicial da banda inglesa. “O som da sua voz”, “Cara Nua” e “Seus Passos” lembram as músicas da carreira solo de Lennon (mais românticas). O violão sossegado e a voz aguda de Samuel Rosa em “Trancoso” parece Bob Dylan. Há ainda espaço para uma bateria eletrônica em “Antitelejornal”, com uma pitada da realidade brasileira, pois a música conta a história de uma personagem brasileira, coisa que a banda fez muito bem no terceiro disco,“Samba Poconé”, lançado em 1996.
Com este CD, a partir dessa mistura do rock da segunda metade do século passado com uma pitada da realidade brasileira, Skank vem enriquecer o atual cenário do rock nacional, dominado por uma pobreza na estética musical e nas letras, protagonizado pelo hardcore e pelo emocore (que valorizam a velocidade no ritmo e um excesso de romantismo nas letras). É só apertar o play e embarcar nesse Carrossel de ótimas músicas.